REALIDADE INVENTADA

"Nao quero ter a terrivel limitacao de quem vive apenas do que e passivel de fazer sentido. Eu nao: eu quero uma realidade inventada."

Clarice Lispector




sexta-feira, 10 de junho de 2011

Meu calcanhar de aquiles.

Normalmente sou uma pessoa bem cabeca aberta, e bem tolerante com as opinioes alheias. Mas como todo mundo, tenho o meu "calcanhar de aquiles", aquele assunto que eh meu ponto fraco. No meu caso, eh preconceito. Seja de raca, religiao, nivel social, opcao sexual, parto do principio que qualquer tipo de preconceito eh crime. E por consequencia, quem expressa um preconceito, seja por meio de acoes, seja por meio de piadinhas, nao passa de um criminoso. Nao consigo entender, muito menos justificar (ou aceitar) que uma pessoa possa ser julgada nao por quem eh, mas por uma unica caracteristica que representa apenas uma fracao do que ela eh.

Geralmente nem toco nesse assunto porque o tema me faz perder a razao (e as vezes algumas amizades) quando vira discussao. Mas hoje aqui na escola, aconteceu um fato que me deixou mal, e senti vontade de desabafar: um estudante brasileiro chegou pra aula de olho roxo e chorando. Foi atacado por um bebado, e junto com uma amiga, apanhou sem razao nenhuma. Apos 3 semnas apenas de Irlanda, cancelou o curso e decidiu voltar para casa.

Conversando sobre isso, outras historias comecaram a surgir, como esta, por exemplo: na semana passada, a garota chinesa que trabalha na mesa ao lado da minha estava passeando com a filha pequenininha (que eh irlandesa, alias), quando foi atacada por um grupo de rapazes, atirando pedras e gritando insultos para as duas. Um bando de HOMENS atirando pedras em uma MULHER e uma BEBE!

Nao quero que me entendam errado: apesar de ja ter passado por situacoes dificeis aqui na Irlanda (uma vez um senhor cuspiu em mim quando eu passei perto dele na rua, por exemplo, e uma garota na fila do banheiro de um pub me perguntou porque nao volto “pro lugar de onde eu nunca devia ter saido”), tenho que deixar claro que para cada pessoa que demonstrou de alguma maneira preconceito por eu ser brasileira, muitas, muitas outras foram simpaticas, amorosas e solicitas, e encontrei muito mais amor do que odio desde que me mudei para ca. E preconceito existe em todo lugar.

Tanto existe em todo lugar, que nao leva mais de 2 minutos de pesquisa para encontrar em redes sociais pessoas que estao na Irlanda, nao por terem nascido aqui, mas por opcao e por acreditarem que tem uma vida melhor aqui do que teriam no Brasil, tirando sarro do pais e dos irlandeses, ou entao ver perolas como a frase de um rapaz criticando uma escola porque “ja nao eh mais a mesma, esta cheia de estudantes indiano, paquistaneses e gente desse tipo”.

Resumo da opera: eh gente atirando de todos os lados. Mas infelizmente esse nao eh um dos casos em que “chumbo trocado nao doi”, e cada declaracao ignorante dessas coloca mais um pouquinho de distancia entre pessoas que sao, em essencia, exatamente as mesmas.

Ja dizia a minha avo, ignorancia as vezes eh uma bencao. Mas na maioria dos casos, eh uma desgraca.

2 comentários:

  1. "I am he as you are he as you are me and we are all together", já diziam Lennon e McCartney. Pena de quem não consegue ver isso.
    bjs

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  2. Isso dói demais mesmo! E, como vc disse, também parte de 'nós' também. Tomara que o aluno se recupere do trauma... :(
    bjos

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