REALIDADE INVENTADA

"Nao quero ter a terrivel limitacao de quem vive apenas do que e passivel de fazer sentido. Eu nao: eu quero uma realidade inventada."

Clarice Lispector




quarta-feira, 20 de julho de 2011

Todo mundo fala que morar em outra pais faz as pessoas mudarem. Eu  ja nem discuto: quando olho pra tras mal me reconheco na pessoa que era quando deixei o Brasil. Mas a gente muda como? Estava pensando nas mudancas que esses 2 anos de Irlanda me trouxeram, e acabei (de novo) com um top five na cabeca.. Compartilho com voces um pouquinho do meu novo eu:

1. Sentimentos em perspectiva.
Conviver com uma nova cultura (principalmente casar com uma nova cultura), e tambem viver a montanha-russa de surpresas que essa mudanca trouxe pra minha vida, me fez colocar meus sentimentos em perspectiva. Sempre fui muito impulsiva e tambem extremista... tudo que doia, doia muuuuito, o que magoava, magoava muuuuito.. E eu queria tudo resolvido aqui, agora. Aqui na Irlanda estou aprendendo a ver que existe o branco e existe o preto, mas tambem toda uma gama de cinzas que os meus sentimentos podem ter: hoje doi, mas amanha melhora... algo magoa, mas tambem nao eh tao importante que precise me apegar a magoa.. E esperar passar realmente funciona! Maturidade, talvez? Assim espero...

2. Prioridades revisitadas.
Com a vida de expatriada, algumas coisas que considerava importantes ja nao ocupam o menor espaco na minha vida. Futebol, por exemplo, que sempre acompanhei no estadio e pela TV, hoje esta no fim da minha lista de prioridades. Tanta noticia, tanta novidade pra eu acompanhar no Brasil, vou lembrar logo de futebol? (me desculpa Palmeiras, mas pode cair que eu nem ligo mais!)... E entre ir a manicure ou gastar uma tarde no Skype com a minha familia, nem preciso pensar para fazer a escolha: as unhas ficam pra outro dia.

3. Auto-estima, ativar.
A diversidade de pessoas e modas que se ve por aqui me faz sentir mais aceita. Me sinto a vontade para brincar com minhas roupas, com meu cabelo (se isso eh bom ou ruim, ja eh outra historia, ja que os resultados sao questionaveis), e acabei ficando mais vaidosa. Sem contar que so estando aqui a gente ve como nosso pais eh cruel com nos, pobres mulheres balzaquianas.. Por aqui 30 anos nao eh velha, 60kg nao eh gorda e olho castanho nao eh sem graca. E pra completar, brasileira eh fetiche entre a gringaiada. Resultado: Dublin fez mais pela minha auto-estima do que todos os anos de terapia!

4. O passado ja passou.
Muita gente sofre ao morar em outro pais porque fica o tempo todo comparando, lembrando, sentindo falta. Mas para ficar feliz na Irlanda, simplesmente aprendi a olhar pro hoje. Nao quero saber se a comida era boa, as baladas divertidas ou os dias mais quentes quando morava em Sao Paulo. Como com gosto o que preparo por aqui, me divirto nos milhares de pubs e shows por ai, e aproveito o friozinho pra curtir o cobertor de orelha. Guardo no coracao e na memoria pessoas queridas e lugares especiais. Mas deixo de lado o que ficou pra tras, e aproveito cada minuto do que estou vivendo.

5. Voce tem medo de que?
Talvez a maior mudanca que eu veja em mim eh justamente a mais dificil de traduzir: essa sensacao de que nao vale a pena ter medo da vida. Sempre fui do tipo de pessoa que planeja muito, e morre de medo que tudo de errado, de ser surpreendida e nao saber o que fazer. Tinha medo de perder as pessoas que eu amava, tinha medo pelo meu emprego, tinha medo do futuro. Jogar tudo pro alto, e ter a chance de ver meus medos se tornarem realidade (me afastar de pessoas, ficar sem emprego, nao ter nem nocao do futuro) me deu asas, me deixou livre. O que eu tinha medo aconteceu e eu continuo aqui. Alias, estou ate melhor. Mais feliz. Como diz Chico Xavier, isso tambem vai passar. Seja bom ou seja ruim. Entao, ter medo pra que?

2 comentários:

  1. Olá Mi!

    Adorei seu post e suas reflexões acerca da vida de na Irlanda e deste momento de maturidade, consigo me identificar muito com suas palavras e admiro seu novo você. :)

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  2. Oi Tarsi, obrigada pelas palavras! Fico feliz tambem em ver as mudancas comigo, bom perceber como a gente amadurece ne...

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